Como a poluição sonora afeta a nossa saúde

Entrevista com o Engenheiro Juan Frias, Coordenador do Comitê Acústica Ambiental, da ProAcústica

Como a poluição sonora afeta a nossa saúde

A Organização Mundial da Saúde (OMS) define que ruídos superiores a 75 dB se tornam danosos e dolorosos a partir dos 120 db. Entre as consequências psicopatológicas estão o aumento da pressão arterial, dor de cabeça e, no caso de barulhos extremos e constantes, gastrites, ou até infartos. Estresse, fadiga, depressão, ansiedade, tanto em seres humanos quanto em animais são os danos psicológicos mais comuns. Mesmo com todas essas consequências a sociedade brasileira pouco discute o tema. Conversamos com o Engenheiro Juan Frias, Coordenador do Comitê Acústica Ambiental, da ProAcústica – entidade sem fins lucrativos que há 11 anos atua no desenvolvimento da Acústica Aplicada no Brasil e na Ciência das Vibrações como fatores de bem-estar e de saúde pública.

A poluição sonora é subestimada pelo poder público e sociedade?

Em relação a outros poluentes existe pouca informação sobre os prejuízos que a poluição sonora produz nas pessoas, mesmo que a população esteja mais consciente. Em parte, pela pouca pesquisa que se realiza e, por outro lado, porque os danos à saúde não são evidentes a curto prazo.
Por exemplo, poucas pessoas sabem que a poluição sonora é considerada pela Organização Mundial da Saúde como um problema de saúde pública, sendo a segunda poluição ambiental que mais afeta a saúde nos países da OCDE. A OMS estima que na União Europeia a poluição sonora representa uma perda anual de mais de um milhão de anos de vida saudável dos seus cidadãos. E que as principais doenças provocadas pela poluição sonora são cardiovasculares, como diabetes ou aumento da pressão arterial, aumentando assim o risco de infarto.

Quais são os maiores vilões – automóveis, construções, as pessoas – todos eles?

Em termos absolutos o maior vilão é o tráfego de automóveis. Pesquisas na Europa revelam que os automóveis são responsáveis por 80% da poluição sonora, a indústria com 10%, ferrovias com 6%, e o lazer (principalmente noturno) com 4%. Acredito que nas grandes cidades do Brasil esses números podem não ser muito diferentes.

Ruídos de obras, mesmo sendo muito perturbadores e registrando um índice alto de reclamação, constituem focos de ruído muito localizados que geralmente afetam a uma porção pequena da população.

Prefeituras e veículos de comunicação pouco divulgam índices de poluição sonora – falta medição ou é uma forma de abrandar o problema?

Não divulgam porque não possuem informação. A metodologia para apresentar os índices de exposição ao ruído para a população são os Mapas Estratégicos de Ruído, uma ferramenta de informação à população da gestão urbanística que permite identificar os pontos quentes de ruído (locais onde se juntam elevados níveis sonoros com grande concentração de população) para, posteriormente, pôr em prática Planos de Ação de medidas mitigadoras para reduzir a poluição sonora.

Na União Europeia, desde 2007, todas as cidades de mais de 100.000 habitantes devem realizar seus Mapas de Ruído e atualizá-lo a cada 5 anos.
A Associação Brasileira para a Qualidade Acústica – ProAcústica realizou dois Mapas Pilotos na cidade de São Paulo, um na região da Av. Paulista e, outro, no Centro que podem ser consultados em (http://www.mapaderuidosp.org.br/).

Municípios como São Paulo ou Rio de Janeiro já legislaram para realizar seus respectivos mapas de ruído. No caso de São Paulo, o regulamento publicado em 2019 estabelece um prazo de 7 anos para mapear completamente a cidade.

Quais as soluções para mitigar os impactos do excesso de ruídos?

Em acústica existe a regra de que o mais efetivo é tratar a fonte de ruído, posteriormente à fonte, e no último caso o receptor. Assim, pelo fato de a principal fonte de ruído ser o tráfego de veículos, as principais soluções estão relacionadas à mobilidade. É importante Incentivar o uso do transporte público, favorecer a compra de veículos de transporte público e privado mais silenciosos, fiscalizações e blitz veiculares, estacionamentos dissuasórios próximos a estações de trem e metrô, limitar o uso do veículo particular em determinadas áreas, pedágios para acessar em veículo privado ao centro da cidade, proibição de tráfego de veículos pesados, instalação de pavimentos fono-redutores, limitação de velocidade, etc.

Em relação ao urbanismo, é necessário exigir limitações de construção de edificações residenciais próximas a fontes de ruído como indústrias, rodovias ou aeroportos, intercalando com zonas comerciais entre as zonas ruidosas e as sensíveis.

E, por último, em lugares onde tenham que coexistir fontes de ruído com residências é importante exigir um maior isolamento acústico da fachada. Mesmo não reduzindo totalmente a poluição sonora, as pessoas devem ter condições acústicas adequadas dentro das suas casas.


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ODS3 – Saúde e Bem-Estar –
Garantir o acesso à saúde de qualidade e promover o bem-estar para todos, em todas as idades


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