Dia Nacional da Conscientização sobre as Mudanças Climáticas

Dia Nacional da Conscientização sobre as Mudanças Climáticas

Entrevista exclusiva com Marcio Astrini, secretário executivo do Observatório do Clima

Desde 2011, o dia 16 de março celebra o Dia Nacional da Conscientização sobre as Mudanças Climáticas. A data foi determinada pela lei nº12.533 para promover debates e mobilizações em torno de alternativas mais sustentáveis em diferentes setores da sociedade.

Entre os principais fatores para a mudança climática – responsáveis pelo aquecimento global – estão a queima de combustíveis fósseis nos meios de transporte e na geração de energia, o desmatamento, o uso inadequado do solo que também contribui para a liberação de gases de efeito estufa, assim como as emissões causadas por indústrias e fábricas.

Os efeitos causados pelas mudanças climáticas já afetam diariamente parte da população mundial. Em regiões marginalizadas e vulneráveis, eventos climáticos extremos, degradação de terras e falta d’água são mais severos e colocam em risco a saúde e a segurança de comunidades inteiras.

No Brasil, nos últimos dez anos, desastres naturais causaram R$ 401,3 bilhões em prejuízos, segundo levantamento da Confederação Nacional de Municípios (CNM). O estudo leva em conta danos com a interrupção do abastecimento de água e energia, em propriedades públicas e privadas, agricultura, comércio e indústria.

O documento aponta que a seca e o excesso de chuvas são os desastres naturais mais registrados no país. No período analisado, de janeiro de 2013 a fevereiro de 2023, foram 59.311 decretações de situação de emergência e calamidade pública.

A Região Nordeste foi a com o maior número de decretos, 46,8% do total. Em seguida, aparecem Sudeste (22,6%), Sul (16,1%), Centro-Oeste (9,3%) e Norte (5,2%).

O estudo ainda revela que 3,4 milhões de pessoas foram desalojadas, 808 mil ficaram desabrigadas e 1.997 morreram. O ano de 2022 teve o maior número de mortes, correspondente a mais de 26% do total.

Segundo reportagem da Agência Brasil, em 2023, o Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional informou que mais de R$ 174,8 milhões foram repassados, no início deste ano, para ações de defesa civil em todo o Brasil. Entre os atendidos estão municípios do litoral norte de São Paulo, afetados por temporais, e do Rio Grande do Sul, que enfrentam estiagem severa.

Para entender melhor as causas das mudanças climáticas e conhecer quais são as ações primordiais para reverter ou amortizar os impactos desta realidade, o Blog Cidade AMA conversou com Marcio Astrini, secretário executivo do Observatório do Clima – rede formada por 68 organizações da sociedade civil brasileira que há 20 anos atua na agenda socioambiental e de clima. Márcio é formado em gestão pública e pós-graduado em políticas públicas e direito constitucional. Possui vasta experiência nos poderes Executivo, Legislativo e no terceiro setor. Nos últimos 13 anos, trabalhou no Greenpeace Brasil, onde coordenou as áreas de clima, Amazônia e, mais recentemente, políticas públicas. É membro do pleno do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas e secretário-executivo do OC desde 2020. Confira a entrevista:

Dia Nacional da Conscientização sobre as Mudanças Climáticas

Faltando menos de sete anos para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, as mudanças climáticas representam uma ameaça real para a humanidade. Quais são as medidas mais urgentes para combater a mudança climática e seus impactos?

Nas mudanças climáticas nós temos duas ações urgentes a serem tomadas: a primeira na área de mitigação, a gente precisa parar de alimentar o problema do aquecimento do Planeta. A cada ano vemos os países acelerando suas emissões e verificamos um atraso muito grande no avanço das negociações. Há muito tempo, quando foi assinado o Acordo de Paris ficou estabelecido o que precisa ser feito, os esforços que os países precisam colocar em prática para resolver o problema da mitigação, mas não é isso que vemos. O Planeta já esquentou mais de um grau, chegando a 1,2 grau e deve chegar logo a 1,5 grau e já estamos vendo as consequências dessa alteração de temperatura. É preciso parar de alimentar essa máquina de desregulação do clima na Terra mitigando os gases de efeito estufa, principalmente o uso de combustíveis fósseis, o desmatamento, refazendo o modo como produzimos alimentos.

A segunda ação importante é de adaptação por conta desse aquecimento que já existe e tende a piorar. Precisamos proteger as populações mais vulneráveis. É preciso criar um plano de amortização para os desastres que já estão acontecendo e que podem ficar ainda piores para as populações mais pobres ao redor do mundo. Essas populações são os grupos menos responsáveis pelo problema do aquecimento global, mas as que mais vão pagar por esse desequilíbrio.

Passados vinte anos da Década Internacional de Redução de Desastres parece que não aprendemos muito. Existe algum ponto positivo para destacar após esse período?

O grande ponto positivo em todo esse debate sobre o clima é que ele está se tornando cada vez mais presente no dia a dia, nas políticas, na preocupação das pessoas. A pressão aos governos e os dados científicos aparecem com muito mais clareza e constância. É claro que não basta conhecer o problema, mas é extremamente necessário esse engajamento, essa difusão de informações, de ciência e que tenhamos cada vez mais ações para resolver os problemas. Uma coisa muito valiosa são os movimentos sociais, não apenas os cientistas, ambientalistas e diplomatas discutindo o assunto, mas movimentos negros, indígenas, de periferia, movimentos dos mais diversos engajados nessa questão de clima, esse é um avanço muito importante.

Em tempos de fake news, como combater o negacionismo climático?

Já enfrentamos isso com o tabagismo, vimos recentemente na pandemia de COVID, presidentes negando a ciência, negando um fato escancarado que era a questão da pandemia e das mortes. Nós vivemos isso na área de saúde, de educação e de pesquisa.
O que precisamos fazer é inundar os canais de comunicação com a verdade, com ciência, com o conhecimento. Repetir à exaustão o que é correto. Também ajudaria muito a regulação das mídias sociais. Não é possível que tenhamos canais de comunicação mundo afora que dão espaço para teorias infundadas que podem levar à morte de pessoas, que podem levar a desastres, que atrasam a solução de problemas como a mudança do clima.

Quais são as ações primordiais que as pessoas podem adotar para colaborar na redução da pegada de carbono?

As pessoas podem tomar atitudes básicas como reciclar, reutilizar, se engajar em campanhas de conscientização, prestar mais atenção no seu estilo de vida e consumo. Mas sem dúvida eu acredito em uma ação política que é a do voto. Essa ação está intimamente ligada às consequências ambientais e climáticas. Nós temos hoje no Brasil um Congresso antimeioambiente, anti-indigena, antisoluções para as agendas do clima. Saber votar e cobrar, ter uma atitude ativista de cobrança e fiscalização sobre aqueles que ocupam as cadeiras de tomada de decisão. As ações individuais e as ações do cotidiano são importantes, mas as ações políticas coletivas são fundamentais.


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