Maiores marcas de moda do país não avançam na divulgação de práticas e impactos socioambientais

Maiores marcas de moda do país não avançam na divulgação de práticas e impactos socioambientais

Em meio aos debates sobre o desmatamento e o aumento da desigualdade social, o Índice de Transparência da Moda Brasil mostra até que ponto 60 das maiores marcas de moda no país divulgam publicamente suas políticas, práticas e impactos socioambientais.

A ideia da publicação é incentivar a aceleração de mudanças sistêmicas na indústria da moda. A quinta edição acaba de ser lançada e revela o nível de divulgação pública de 60 grandes marcas e varejistas do mercado brasileiro. O Índice analisa dados sobre suas políticas, práticas e impactos ao longo de toda a cadeia, abrangendo mais de 200 indicadores sobre tópicos relacionados a práticas de compra, salários dignos, igualdade racial e de gênero, circularidade, clima e biodiversidade, rastreabilidade da cadeia de suprimentos, governança, entre outros temas.

Em seu press release, o movimento global Fashion Revolution lembra que transparência não deve ser confundida com sustentabilidade, mas sem ela será impossível alcançar uma indústria da moda mais sustentável, responsável e justa. A divulgação de dados funciona como uma ferramenta para a mudança. O Índice é dividido em cinco seções: políticas e compromissos; governança; rastreabilidade; conheça, mostre e corrija e destaque problemas.

“A justiça social e a justiça climática estão intrinsecamente ligadas. A moda, como uma das principais indústrias do mundo, deve operar de maneira mais justa e transparente, proporcionando um meio de vida decente para seus trabalhadores e contribuindo para a regeneração da natureza.” – Isabella Luglio, líder educacional do Fashion Revolution Brasil.

Dados desanimadores

Segundo a avaliação do Fashion Revolution, em um ano em que o desmatamento e a perda de biodiversidade no Brasil atingiram números recordes, os dados apresentados no Índice são desanimadores. Nenhuma das 60 maiores marcas e varejistas analisadas no Índice divulga publicamente compromissos mensuráveis ​​e com prazo para desmatamento zero. Atuar contra o desmatamento deve ser crucial e urgente para as marcas que atuam no Brasil, pois os índices dessa prática aumentaram exponencialmente e já impactam todos os biomas nacionais.

Vale ressaltar também que no início da Copa do Mundo da FIFA, várias marcas esportivas não tiveram bom desempenho, a exemplo de Nike Brasil, Penalty e Netshoes obtendo nota 0, reforçando que a transparência na moda não deve se limitar apenas ao fast fashion ou marcas de luxo, mas todos os setores do mercado.

A rastreabilidade é um grande desafio para as cadeias de suprimentos globais, pois esse elo é fundamental para garantir dignidade na vida das pessoas que confeccionam roupas.

No Índice deste ano, 67% das empresas analisadas não divulgaram informações sobre suas listas de fornecedores. As pontuações nesta seção sofreram a maior queda em comparação com a média geral observada no ano passado, de 21% em 2021 para 18% em 2022.

Entre as empresas analisadas, a nota média foi de 17%, um ponto percentual a menos que no ano anterior. As maiores pontuadoras foram: C&A (73%), Malwee (68%), Havaianas (57%), Renner (57%) e Youcom (57%). A maioria das marcas concentrou-se na faixa de 0-10% e, dentre elas, 22 marcas possuem nota zero: Besni, Brooksfield, Caedu, Carmen Steffens, Cia. Maritime, Colcci, Di Santinni, Forum, Havan, Klin, Kyly, Leader, Avenida Stores, Pompeii Stores, Marisol, Moleca, Netshoes, Nike, Penalty, Sawary, TNG e Trifil.

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A importância da transparência

A divulgação pública de informações confiáveis, abrangentes e comparáveis ​​sobre cadeias de suprimentos de moda permite que investidores, formuladores de políticas, jornalistas, ONGs, sindicatos, trabalhadores e seus representantes garantam a responsabilidade de marcas e varejistas.

A transparência permite que tais atores examinem o que as empresas afirmam praticar para a garantia dos direitos humanos e proteção do meio ambiente, além de responsabilizá-las por suas políticas e práticas. Também permite a colaboração entre os atores para parar, mitigar, prevenir e remediar os direitos ambientais e humanos e compartilhar estratégias e melhores práticas nessas questões.

A divulgação de dados por si só não resolverá todos os problemas complexos profundamente enraizados na indústria da moda, mas permite uma fazer progressos significativos em direção a melhorias reais.

Sobre o Índice de Transparência da Moda Brasil 2022

Estudo elaborado pelo Fashion Revolution e Instituto Fashion Revolution Brasil, com apoio financeiro da Laudes Fundação e a parceria técnica da ABC Associados, empresa de consultoria especializada em metodologias de análise de desempenho e perfil de empresas na área de sustentabilidade empresarial.

Objetivos de Desenvolvimento Sustentável Relacionados
ODS5 –
Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas;
ODS8 – Promover o crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável, emprego pleno e produtivo e trabalho decente para todas e todos;
ODS9 – Construir infraestruturas resilientes, promover a industrialização inclusiva e sustentável e fomentar a inovação;
ODS12 – Assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis;
ODS13 – Tomar medidas urgentes para combater a mudança climática e seus impactos.

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