Helena Nader, a primeira mulher eleita para presidência da Academia Brasileira de Ciências
Helena Nader Crédito da foto: Marcos Oliveira / Agência Senado
A inserção da mulher na ciência é uma das principais bandeiras defendidas por Nader.
Após 106 anos, a Academia Brasileira de Ciências (ABC) elegeu, pela primeira vez, uma mulher para a presidência. A eleição de Helena Nader, biomédica da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), foi definida em Assembleia-Geral em março deste ano. Helena encabeçou a chapa única que concorreu ao pleito. Empossada durante a Reunião Magna da ABC, na última semana (03 a 05/05), no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, Helena assume o cargo para o triênio 2022-2025. O voto na Academia não é obrigatório. Dos 568 membros habilitados para votar, 420 votaram
Vice-presidente da ABC desde 2019, a pesquisadora assume a cadeira do físico Luiz Davidovich. Helena se considera “uma pessoa privilegiada por ter tido tantas oportunidades na vida e por estar agora presidindo, como mulher, uma instituição centenária, ao lado de uma diretoria da mais alta qualidade. Espero que possamos motivar ainda mais a ciência brasileira”.
Em entrevista ao jornalista Gabriel Vasconcelos, para a live do “Valor”, a cientista falou sobre a diversidade na ciência, redução orçamentária e os desafios dos pesquisadores frente ao Parlamento. Confira a íntegra da live aqui – https://youtu.be/9B5Py2V1HPE
“Apesar de tudo, a ciência brasileira vai bem – graças à resiliência do cientista brasileiro”, diz a professora titular da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Segundo ela, os pesquisadores brasileiros estão “fazendo mágica” e mantendo a produção científica sempre significativa, ocupando a 13ª posição no ranking mundial. Ela compara a disparidade do investimento em ciência, com fundos cada vez mais reduzidos, com o sucesso dos bancos. Quatro dos 10 bancos mais rentáveis do mundo são brasileiros: “O Brasil ainda não conseguiu ter noção clara de que, sem educação e sem ciência, a economia brasileira não irá florescer.”
Igualdade de gênero também na ciência
A inserção da mulher na ciência é uma das principais bandeiras defendidas por Nader. Apesar de ter demorado 106 anos para que a ABC elegesse sua primeira presidente mulher, a cientista acredita que a instituição está “na faixa” em comparação com outras academias globais, que também tiveram poucas presidentes mulheres ou teve a sua primeira representante feminina eleita recentemente.
Atualmente, na Academia, as mulheres representam apenas 18% do corpo total de membros. Em sua Diretoria, um dos principais compromissos da biomédica é com a igualdade de gênero: dos 11 Acadêmicos que irão acompanhá-la pelo próximo triênio, quatro são mulheres – Mercedes Bustamante e Patricia Torres Bozza serão vices-presidentes e Maria Domingues Vargas e Mariangela Hungria serão diretoras. “Não é sobre sermos maioria perante os homens, mas estarmos em equilíbrio. A diversidade, em todas as profissões, incluindo a ciência, é algo muito relevante”.
A queda na produção acadêmica de mulheres durante a pandemia é outro assunto que preocupa Nader, que justifica o fato pela necessidade das mulheres em conciliar trabalho e tarefas domésticas, incluindo o cuidado com os filhos, durante a quarentena. Esse fenômeno, por outro lado, seguiu acompanhado de um aumento global no número de publicações escritas por homens. “Não podemos, de forma alguma, em pleno século 21, continuar com essa disparidade de argumentos”, determina. “Dizer que a mulher é do lar é se referir a uma fase muito datada. A mulher contribui para a sociedade além do trabalho familiar, que deveria ser compartilhado.”
Trajetória
Helena nasceu na cidade de São Paulo, em 1947, e passou a infância com os pais e a irmã na capital paulista e em Curitiba (PR), para onde seu pai foi transferido. Ainda na adolescência, teve sua primeira experiência acadêmica no exterior, ao cursar o último ano do ensino médio nos Estados Unidos. Depois da graduação, ingressou direto no doutorado em ciências biológicas na Unifesp, sob a orientação do Acadêmico Carl Peter Von Dietrich (1936-2005), que viria a ser seu companheiro por 22 anos e pai de sua filha Julia. Em 1977, fez um pós-doutorado na mesma área pela Universidade do Sul da Califórnia (Estados Unidos).
Ao longo de sua carreira, Helena aliou as atividades de pesquisa ao exercício de cargos administrativos em destacadas instituições científicas. Foi presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC, 2011-2017), onde atualmente é presidente de honra, presidente da Sociedade Brasileira de Bioquímica e Biologia Molecular (SBBq, 2009-2010) e é co-presidente da Rede Interamericana de Academias de Ciências (Ianas).
Bacharel em ciências biomédicas pela Unifesp e licenciada em biologia pela Universidade de São Paulo (USP), Helena tem como objeto de pesquisa a heparina, um composto que evita a coagulação do sangue e impede a formação de trombos. A pesquisadora é bolsista de produtividade nível 1A do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), publicou mais de 380 artigos em qualificadas revistas científicas internacionais e já formou 46 mestres e 51 doutores.
Com informações da Assessoria de Comunicação da ABC
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