Brasil precisa acelerar o desenvolvimento da economia circular

Brasil precisa acelerar o desenvolvimento da economia circular

Carla Tennenbaum e Léa Gejer

Entrevista com as pioneiras no estudo da economia circular no Brasil, Carla Tennenbaum e Léa Gejer

Tema cada vez mais crescente nas redes sociais, meios de comunicação, monitores de buscas e serviços de Inteligência Artificial, a economia circular também tem ganhado espaço nas universidades, nas indústrias e nas esferas nacional, estadual e municipal do poder público. Todo esse interesse foi reforçado com a agenda ESG (sigla em inglês para Environmental, Social and Governance, que significa Ambiental, Social e Governança) propagado à exaustão por pequenas, médias e grandes empresas dos mais diferentes setores.

Há dois anos, o Blog Cidade AMA conversou com Carla Tennenbaum e Léa Gejer sobre os conceitos básicos de economia circular. Em 2015, elas criaram a Ideia Circular, iniciativa pioneira de educação e inovação para a economia circular no Brasil. Neste período, elas formaram profissionais em economia circular com negócios ativos em diversos setores da economia nacional. Também desenvolveram o Manual de Economia Circular para Cidades Ibero-Americanas que aponta problemas e sugere ações em áreas-chave para viabilizar a implementação do modelo circular.

Em maio do ano passado, foram convidadas a desenvolver o relatório da Semana de Economia Circular de São Paulo, evento realizado pela Prefeitura Municipal de São Paulo em parceria com a União de Cidades Capitais Ibero-americanas (UCCI) e a Fundação Ellen Macarthur (EMF). O evento reuniu convidados de diversos setores da sociedade civil, indústria e governos para discutir a importância e o potencial de incorporar a economia circular ao desenvolvimento de políticas públicas e a setores industriais, de serviços e educacionais.

Agora voltamos a conversar com Carla e Léa para saber se os avanços na economia circular são substanciais e serão suficientes para o cumprimento da Agenda 2030.

Dois anos depois da nossa conversa sobre Economia Circular, vocês acreditam que aumentou a percepção das pessoas sobre o tema?

Carla e Léa – Acreditamos que sim. O conceito está mais difundido nos últimos anos, virou destaque em jornais, revistas, sites e demais veículos de comunicação. Ganhou importância, ainda mais com o apelo forte do ESG (sigla em inglês para meio ambiente, social e governança) tão difundido nesse meio tempo e sabemos que a economia circular tem ótimas soluções para as questões de ESG. Tem mais gente estudando o tema nas universidades, mais pessoas trabalhando com isso. Hoje vemos mais soluções sendo desenvolvidas, então de certa forma o tema está crescendo devagarinho, nada muito rápido. É inegável que mais pessoas sabem o que é economia circular, hoje não precisamos explicar tanto o conceito, apesar de não sabermos o quão profunda é essa percepção de cada pessoa.

Neste período, o Brasil avançou na adoção da economia circular?

Carla e Léa – Hoje vemos políticas públicas sendo desenvolvidas, as empresas e indústrias estão trabalhando em mais projetos de inovação na indústria, mas ainda assim num passo devagar, muito mais devagar do que precisamos para atender os desafios globais. É necessário acelerar o desenvolvimento dos projetos e soluções e políticas públicas. A Europa tem investido bilhões em economia circular, algo que não vemos aqui na América Latina de forma geral.

É preciso destacar a realização da primeira Semana de Economia Circular na América Latina, em maio de 2022. O evento reuniu o governo e diversos setores para discutir a economia circular em diversos painéis. A Ideia Circular foi convidada para desenvolver um relatório enfatizando a importância e o potencial de incorporar a economia circular ao desenvolvimento de políticas públicas e a setores industriais, de serviços e educacionais.

Também está em trâmite, na Comissão de Meio Ambiente do Senado Federal, o Projeto de Lei de Economia Circular – PL 1874-22 que propõe uma Política Nacional de Economia Circular. Ainda não foi aprovado, mas já é um avanço.

Ainda no campo das Leis, é importante lembrar a aprovação da Lei 14.133 que trata de Licitação e Contratos públicos que incorpora critérios de sustentabilidade nas contratações , um avanço interessante nas políticas públicas. Mas ainda temos muito que avançar. Ainda prevalece uma visão superficial na mídia e redes sociais associando a economia circular apenas à reciclagem.

Quais setores estão mais propensos a praticar a economia circular?

Carla e Léa – A indústria do plástico por ser um problema global, por chamar muita atenção da opinião pública, pela questão dos oceanos, é um setor que apresenta muitas soluções, soluções que fazem recircular o resíduo plástico em todas as esferas da economia circular.

Aqui no Brasil, um setor que se fala bastante é o setor da moda. São muitas iniciativas interessantes sendo desenvolvidas.

A construção civil também é um setor importante para economia circular, mas vemos menos ações nessa área. O setor gera um volume muito grande de resíduos, muitas vezes resíduos que nem são recicláveis. Em todo o processo da construção poderíamos ter melhoras não só nos materiais utilizados, mas no uso de energia e água. São fatores importantes que precisam de mais atenção.

As cidades também podem se tornar cidades circulares, ter áreas urbanas destinadas para economia circular, pensando em gerar inovação, políticas públicas.

O setor de alimentos também tem se falado bastante em relação à economia circular. Um bom projeto é o Ligue os Pontos, em São Paulo. São diversas hortas urbanas na região periférica da cidade que produzem alimento para a merenda das escolas públicas e os compostos (resíduos orgânicos) voltam para estas hortas.


LEIA TAMBÉM: Você sabe o que é economia circular – a primeira entrevista com Léa Gejer e Carla Tennenbaum

Você pode gostar...

2 Resultados

  1. Omar horacio disse:

    Olá, com o plástico das pontas de cigarro e qualquer plástico podemos fazer tijolos para construção e a reciclagem o plástico é o que tem maior impacto ambiental, também nas cidades turísticas há muito mais plástico para recolher e os zeladores podem trabalhar mais horas a recolher plástico e trabalhar na fábrica.

    • ama disse:

      Oi Omar, agradecemos sua visita e suas ótimas colocações. Iniciativa, criatividade e inovação são fundamentais para provocar uma mudança efetiva na relação das pessoas com o meio ambiente. Um abraço

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *