Conheça boas iniciativas de reciclagem pelo Brasil
Um dos maiores desafios das cidades está na sua capacidade de reduzir e reciclar o lixo. Veja algumas soluções adotadas em diferentes municípios brasileiros
No Brasil, apenas 4% dos resíduos sólidos que poderiam ser reciclados vão efetivamente para o processo de reciclagem, índice muito abaixo de países de mesma faixa de renda e grau de desenvolvimento econômico, como Chile, Argentina, África do Sul e Turquia, que apresentam média de 16% de reciclagem, segundo dados da International Solid Waste Association (ISWA).
Um dos maiores desafios das cidades está na sua capacidade de reduzir e reciclar seus resíduos. Entre 2010 e 2022, a geração de resíduos sólidos no Brasil passou de 67 milhões para 81,8 milhões de toneladas por ano, o que corresponde a 224 mil toneladas diárias.
Com isso, cada brasileiro produziu, em média, 1,043 kg de resíduos por dia. Materiais recicláveis correspondem a cerca de 27,7milhões de toneladas (33%) destes resíduos e geram dinheiro quando são reaproveitados. As informações constam no Panorama dos Resíduos Sólidos 2022 da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (ABRELPE).
Mas boa parte destes materiais (12 bilhões de toneladas) vão parar nos lixões, todos os anos, gerando uma perda econômica de R$14 bilhões, valor equivalente ao orçamento de uma grande capital brasileira como Belo Horizonte, segundo o levantamento realizado também pela ABRELPE em 2019.
Para marcar o Dia Internacional da Reciclagem, celebrado em 17 de maio, destacamos algumas boas iniciativas realizadas pelo Brasil. Confira:
Florianópolis é campeã em reciclagem de vidros
Segundo levantamento da Associação Brasileira das Indústrias de Vidro (Abividro), realizado em 2019, no Brasil são produzidas mais de 8,6 bilhões de unidades de vidro por ano e 1,3 milhões de toneladas do material colocadas no mercado nos mais variados formatos.
Do total produzido, 300 mil toneladas (quase 25%) acabam destinadas à reciclagem. Entre os problemas que impedem a economia circular do vidro no país estão a falta de coleta seletiva na grande maioria das cidades e o descarte incorreto pela população.
Entre as cidades brasileiras, um bom exemplo é Florianópolis. A cidade é um caso de sucesso na reciclagem de vidro. Em 2023, a Prefeitura de Florianópolis ampliou a rede de entrega voluntária de vidro para 145 pontos. Desde o final de 2014, quando foram instalados os primeiros 10 pontos de entrega voluntária (PEVs) de vidro, estima-se que a reciclagem de vidro já chega a 30% do potencial em Floripa.
Toda produção da coleta seletiva da prefeitura é entregue para associações de triadores, que mantêm em torno de 200 famílias. Com volume grande e estável de vidro coletado, Floripa concentrou a atenção da indústria recicladora. Hoje, a tonelada de vidro comercializada na capital catarinense pode chegar a R$ 230, enquanto nos demais municípios segue sendo vendida por apenas R$ 60.
Curitiba troca recicláveis por hortifrutis
Para criar o hábito da separação de recicláveis e sensibilizar a população para a correta destinação final dos resíduos, a Prefeitura Municipal de Curitiba mantém desde 1991 o programa Câmbio Verde.
Para participar é preciso levar aos pontos de troca, em datas e horários pré-determinados, 4 Kg de materiais recicláveis (papel, papelão, vidro, sucata ferrosa e não ferrosa) ou óleo de cozinha usado acondicionado em garrafas PET de 2 litros, 4 litros de óleo usado serão trocados por 1 kg de produtos hortifrutis.
Com isso, além de promover a reciclagem, o programa promove o escoamento da safra de produtos hortifrutis dos pequenos produtores de Curitiba e da Região Metropolitana e melhora a qualidade da alimentação dos beneficiados pela iniciativa.
Segundo a Prefeitura, por mês, são levadas cerca de 220 toneladas de material aos pontos e atendidas cinco mil pessoas.
Em Natal, recicláveis valem desconto na conta de luz
Agora em maio, o programa Vale Luz, da Neoenergia, completou 10 anos no Rio Grande do Norte, com a marca de 8.820 famílias beneficiadas com descontos na fatura por meio da troca de resíduos sólidos recicláveis. Ao longo desse período, foram mais de R$ 380 mil de bonificação nas contas. Em paralelo, mais de 1.200 toneladas de materiais foram tratadas corretamente conforme a legislação ambiental.
O programa funciona em tendas itinerantes e em locais fixos na capital Natal e em outros municípios. O sistema de troca é bem simples. Em todos os pontos, é possível trocar materiais, como latas de alumínio ou garrafas PET, por “Merrecas”, moeda criada pela Neoenergia. Os resíduos serão pesados e os descontos serão contabilizados diretamente na conta de luz. A cada 10 Merrecas acumuladas são gerados R$ 0,80 de desconto. A troca também pode ser feita por lâmpadas LED.
Também são aceitos outros materiais recicláveis como papelão, papel de escritório, jornais, sacos plásticos, embalagens de produtos de limpeza, garrafas de vidro, latas de refrigerantes e de outros produtos alimentícios, embalagens tetra pak e até óleo de cozinha devidamente filtrado e dentro de garrafas PET ou de vidro transparentes.
O Vale Luz beneficia ainda os clientes inscritos na Tarifa Social de Energia Elétrica (TSEE) e moradores de comunidades populares por meio da substituição de lâmpadas pelas de tipo LED, mais econômicas e com duração prolongada. Os interessados devem apresentar a conta de energia do mês anterior paga e estar em dia com a distribuidora.
Recicla Santos: Alteração na legislação para aumentar a reciclagem
Criado por Lei Complementar (952/2016), o Programa Recicla Santos está em vigor no município do litoral paulista desde julho de 2017. A legislação tornou obrigatória a separação entre resíduos úmidos (orgânicos) e secos (recicláveis) e também criou a pessoa do “grande gerador” de resíduos, correspondente aos comércios e serviços que geram mais de 120 quilos ou 200 litros/dia de resíduos.
Assim, os grandes geradores do município são obrigados a se cadastrar na Secretaria de Meio Ambiente (Semam). Além disso, também ficam responsáveis pela apresentação de um Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos a ser executado por empresa privada para coletar o seu lixo orgânico, enquanto o lixo reciclável permanecer coletado pelo serviço público, com a devida autorização do município.
Os pequenos geradores, definidos como aqueles que geram menos de 120 quilos ou 200 litros de resíduos por dia, ficam obrigados a separar o lixo orgânico do reciclável diariamente, sendo que o descumprimento dessa norma ocasiona a aplicação de multas.
Desde o período de adaptação para que iniciasse a vigência da lei até os dias atuais, este esforço continua e inclui palestras e rodas de conversa com empresários, educadores e síndicos de condomínio e mutirões de funcionários da prefeitura para visitas porta a porta em bairros onde há denúncias de descarte irregular.
Em paralelo, funciona o Programa Condomínio Sustentável, que levou informações para cerca de 2100 condomínios. O trabalho envolveu a conscientização dos síndicos e moradores para a importância do descarte correto, orientando sobre a melhor forma de realizar a separação e o descarte para coleta seletiva.
Segundo a Prefeitura, esse conjunto de ações permitiu que a cidade pulasse de 3.765 toneladas de reciclagem, para 2022 19.078,29 toneladas recicladas, um aumento de 506% desde a criação da iniciativa.
Nº de toneladas arrecadadas nos últimos anos:
Até março de 2023 – 3.659,08
Em 2022 – 19.078,29 -aumento de 506% após a implantação do Recicla Santos
Em 2021 – 10.154,975 t
Em 2020 – 12.409,846 t
Em 2019 – 12.940,00 t
Em 2018 – 12.254,00 t
Em 2017 – 4.562 t
Em 2016 – 3.765 t
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ODS 12 – Consumo e produção responsáveis – Garantir padrões de consumo e de produção sustentáveis
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